
Alguns artistas não cabem em molduras. Nascem do gesto, do improviso, do ritmo que não se aprende nos livros, mas nos terreiros, nas rodas e nos quintais. Há corpos que dançam como quem fala, há mãos que batem como quem escreve. E há nomes que se confundem com o próprio instrumento. Antes do reconhecimento, já havia talento. Antes do aplauso, já havia encantamento. Na infância, o pandeiro era extensão do corpo. A rua, sua primeira escola. E o compasso das batidas revelava mais do que técnica: era linguagem. Aprendeu a tocar ouvindo os mais velhos e olhando com atenção. Mas foi com a criatividade que encontrou um caminho próprio — cruzando samba e dança, percussão e espetáculo. Em sua performance, o instrumento voava, girava, sorria. Ele reinventava o gesto, mas sem jamais perder a raiz. Não demorou a chamar atenção. Os palcos se abriram, os mestres o reconheceram, o país o aplaudiu. Era artista da rua, da quadra, do barracão. E foi ali, em meio ao povo, que construiu seu verdadeiro reinado. A técnica apurada e a presença cênica fizeram dele ícone, mas o que o tornava único era outra coisa: a leveza. A maneira como fazia o difícil parecer natural, como tornava o virtuoso algo acessível, como encantava sem esforço. Visto de longe, parecia espetáculo. Visto de perto, era devoção. Cada movimento carregava memória, cada batida evocava história. Não foi apenas o maior pandeirista de sua geração e de todos os tempos — foi um tradutor da alma do samba em gesto, ritmo e alegria. Siga a leitura e conheça a trajetória de Carlinhos Pandeiro de Ouro, o artista que transformou o pandeiro em dança e fez do próprio corpo um instrumento da cultura popular.
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Como citar esse artigo — OLIVEIRA, Marcelo Fonseca de. PANDEIRO NAS MÃOS, MUNDO NOS PÉS. In: MEMÓRIA Verde Rosa. Rio de Janeiro, 2023. Disponível em: <https://memoriaverderosa.com.br/carlinhos-do-pandeiro/>. Acesso em: 30.06.2025.
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