Tidinha: dança e paixão pela Mangueira

Tudo começou em 1954, quando Matilde de Oliveira, mais conhecida como Tidinha, desfilou pela primeira vez na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, em pleno domingo de Carnaval. Com apenas cinco meses de idade, Tidinha já estava toda fantasiada de baiana. A história, relata que sua mãe pretendia deixá-la com a vizinha para poder desfilar, mas o pai de Tidinha não permitiu. Ele insistiu que a pequena fosse com eles e pediu à mãe que confeccionasse uma bela roupinha de baiana. Esse foi o primeiro passo de Tidinha no mundo do samba. Ao O Jornal em 22 de dezembro de 1973, Tidinha acrescenta detalhes ao ocorrido: “A primeira vez que fui à avenida, desfilei no colo de minha mãe, e ela conta que no meio do desfile eu quis mamar e meu pai foi me levar para um lugar mais sossegado, onde todos os componentes ficavam brincando, avisando que nem a ala nem a avenida eram creches”. Naquela época, as fantasias tinham capas, e Tidinha conta que, sempre que passavam pelo juiz de menores, seu pai a escondia debaixo de uma capa para evitar problemas.

Tidinha sempre foi uma filha do Rio de Janeiro, com um amor declarado pelo Flamengo (ninguém é perfeito) e, é claro, pela Mangueira. Desde muito nova, já vivia intensamente o ambiente da escola de samba. Quando criança, acompanhava sua mãe, que desfilava na Ala das Baianas Grã-finas, e juntas, participavam dos desfiles. Seguiu assim até completar oito anos.

Mais tarde, um marco importante em sua trajetória ocorreu em 16 de dezembro de 1973, quando foi eleita rainha da ala da bateria da Estação Primeira de Mangueira, com 1.950 votos vendidos a Cr$ 1,00 cada.

Com 12 anos, Tidinha já era uma superfã das lendárias porta-bandeiras Neide, Vilma Nascimento e Mocinha. Admirava tanto o jeito como elas dançavam, que acabou sendo convidada por Xangô para também se tornar uma porta-bandeira. Ela aceitou o convite e entrou para a escola como terceira porta-bandeira. Rapidamente, seu talento e dedicação a elevaram ao posto de segunda porta-bandeira.

Aos 17 anos, em 1971 — Os Modernos Bandeirantes —, Tidinha teve a honra de desfilar pela primeira vez como terceira porta-bandeira da Mangueira, repetindo a experiência em 1972 — Carnaval dos Carnavais —. Entretanto, no Carnaval seguinte, ela optou por voltar à ala de sua mãe, que já contava com a participação de sua cunhada Suede — mulher de seu irmão, Valter, que saía na Ala dos Boêmios —, suas sobrinhas Cleonice de oito anos, Isabel Cristina de sete e Meire Lúcia de quatro anos, e a irmã de seu noivo.

Em 1989 — Trinca de Reis —, Tidinha enfrentou um dos maiores desafios de sua carreira ao assumir o posto de primeira porta-bandeira da Mangueira, substituindo Mocinha, que dançava com o mestre-sala Lilico. Ela “segurou” com firmeza a bandeira verde-rosa até o Carnaval de 1991 — As Três Rendeiras do Universo —. Tidinha, ao assumir o posto de primeira porta-bandeira substituindo Mocinha, foi assim lembrada pelo O Globo, edição de 1 de fevereiro de 1989: “Depois de esperar 17 anos, Tidinha assume no próximo domingo o posto de primeira porta-bandeira da Mangueira com duas grandes responsabilidades: trazer para a escola a nota dez e substituir Mocinha. Aos 32 anos, Matilde Oliveira revela que vai realizar um sonho antigo. Tidinha será acompanhada na passarela pelo mestre-sala Lilico, que nos últimos dez anos formou um dos pares mais famosos do samba: Mocinha e Lilico. Ela garante que o público vai ver uma combinação perfeita e, para isso, tem ensaiado diariamente desde dezembro, quando foi anunciada a sua ascensão”.

Contudo, sua contribuição à Mangueira foi muito além dos desfiles. Tidinha casou-se com Carlos Dória, presidente da escola, e exerceu funções de grande responsabilidade. Entre 1987 e 2013, presidiu o Grêmio Recreativo e Cultural Mangueira do Amanhã1, escola mirim da Mangueira, foi também coordenadora da ala de casais mirins de mestre-sala e porta-bandeira, transmitindo seus conhecimentos às novas gerações. Nos desfiles da Mangueira, apresentava o terceiro casal da escola, Mateus e Vitória, além de presidir a Ala Brasinhas e Brasões.

Infelizmente, Tidinha foi internada em um hospital em Rio das Ostras, na Região dos Lagos, onde lutava contra um enfisema pulmonar. Ela nos deixou no dia 17 de setembro de 2018, aos 64 anos, deixando saudades na Estação Primeira de Mangueira.

Tidinha é mais do que uma porta-bandeira da Mangueira, ela é um ícone da cultura carnavalesca carioca. Sua habilidade e amor pela escola contribuíram para solidificar sua posição de destaque no samba carioca. (Sergio Cabral, jornalista e pesquisador de música popular brasileira)

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Como citar esse artigo — OLIVEIRA, Marcelo. “TIDINHA: DANÇA E PAIXÃO PELA MANGUEIRA”. In: MEMÓRIA Verde Rosa. Rio de Janeiro, 2023. Disponível em: <https://memoriaverderosa.com.br/tidinha/>. Acesso em: 21/02/2025.

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  1. A GRCESM Mangueira do Amanhã é uma escola de samba mirim localizada no Rio de Janeiro, que participa anualmente do desfile oficial das escolas de samba mirins na Marquês de Sapucaí. Esse projeto é uma iniciativa social do GRES Estação Primeira de Mangueira. Uma das fundadoras da Mangueira do Amanhã é a cantora Alcione, que atualmente ocupa o cargo de presidente de honra. Desde sua criação em 1987, a escola teve como madrinha a cantora Maria Bethânia. A agremiação é formada por crianças e adolescentes com idades entre 7 e 17 anos. Ao longo dos anos, a Mangueira do Amanhã já contou com mais de 3.000 componentes desfilando em um único Carnaval e revelou diversos talentos que hoje integram a escola principal. Seus pesidentes: Tidinha de 1987 a 2013, Alcindo José Silva “Soca” de 2013 a 2022 e Evelyn Bastos, atual. ↩︎

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