
O início da trajetória de Angenor de Oliveira, mais tarde imortalizado como Cartola, revela as origens humildes de um dos maiores ícones do samba brasileiro. Nascido em 11 de outubro de 1908, Angenor veio ao mundo como o primeiro homem da família, sendo filho de Sebastião Joaquim de Oliveira e Aída Gomes de Oliveira. Nascido na rua Ferreira Viana, no Catete, ele logo se imergiu na cultura popular carioca, desde muito jovem. Sua infância foi marcada pela presença afetuosa do avô e pela convivência com os ranchos carnavalescos, que o conectaram com o samba desde cedo.
Como ele mesmo disse, o “micróbio do samba” o encontrou em uma tarde vestido com a fantasia do Rancho dos Arrepiados. Contudo, a morte do avô e a mudança para o morro da Mangueira em sua adolescência seriam os catalisadores que o impulsionariam a abraçar o samba como vocação. Apesar das dificuldades, incluindo ser expulso de casa e trabalhar como servente de pedreiro, Angenor já desenhava sua identidade como artista, buscando refúgio na música, entre as fraturas de sua vida pessoal.
Seu apelido, “Cartola”, que surgiu de forma irreverente e quase cômica, reflete sua relação com a vida e a arte, como uma maneira de se reinventar diante das adversidades. A trajetória de Cartola é, então, marcada por momentos de brilho e escuridão, onde a música e os desafios se entrelaçam. Em 1946, o compositor enfrentou uma das maiores batalhas pessoais de sua vida: a meningite, que o debilitou a tal ponto que ele se viu sem forças, sem voz e sem violão. O que parecia ser o fim para muitos, no entanto, foi apenas uma pausa temporária.
Cartola se recuperou, mas o destino trouxe novas dificuldades, como a perda de sua companheira Deolinda, que deixou um vazio profundo. Contudo, a música foi sempre sua tábua de salvação. Em 1948, ele e Carlos Cachaça compuseram o samba-enredo “Vale de São Francisco”, uma verdadeira joia da música brasileira, lembrada até hoje por sua originalidade e beleza.
Mas a vida, implacável como sempre, trouxe mais mudanças. A relação de Cartola com a Estação Primeira de Mangueira começou a se distanciar, culminando em um período de solidão. Esse afastamento da Mangueira e do morro, no entanto, não durou para sempre. A chegada de Zica em sua vida foi um ponto de renovação, o início de um reencontro com suas origens, sua arte e a Mangueira. Juntos, deram início a um novo ciclo, com a criação do restaurante “Zicartola”, um espaço que se tornaria um ponto de convergência entre o samba e a bossa nova.
O cenário estava preparado para uma nova ascensão de Cartola, com seu nome finalmente reconhecido como um dos maiores compositores da música popular brasileira. Em 1974, a música de Cartola finalmente foi reconhecida como merecia. Foi durante a I Bienal do Samba em São Paulo, em um churrasco improvisado, que o artista, ao lado de Paulinho da Viola e outros ícones do samba, conquistou uma plateia e despertou o interesse para o seu primeiro disco solo.
O produtor J. C. Botezelli, o Pelão, enfrentaria o ceticismo das gravadoras para viabilizar esse sonho e o materializou. O álbum, gravado em 1974, com músicos renomados e arranjos sofisticados, foi aclamado pela crítica, consolidando Cartola como um dos maiores compositores do Brasil.
Porém, como ocorre com muitos artistas, a fama veio acompanhada de perdas pessoais, como a morte de seu pai, e desafios. Ainda assim, ele encontrou forças na música e na Mangueira, criando novos discos e se tornando ainda mais querido pelo público. Em 1976, o samba “As rosas não falam” foi lançado e se tornou um sucesso imenso. Mas essa ascensão não foi apenas marcada por talento e parcerias, mas também por escolhas difíceis, como a decisão de se afastar da Mangueira em busca de tranquilidade para compor.
A vida de Cartola seguiu alternando entre reconhecimento, perdas e desafios, até que, em 1980, ele em decorrência de um câncer, faleceu, mas permanece imortal na memória de todos aqueles que foram tocados por sua música.
A história de Cartola é marcada por altos e baixos, mas também por uma paixão inquebrantável pelo samba. Se você quer entender como um homem de origem humilde se tornou um dos maiores (se não o maior) ícones do samba brasileiro, continue com a leitura e explore sua incrível trajetória. Saudações verde-rosa.
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Como citar esse artigo — OLIVEIRA, Marcelo. “O DIVINO”. In: MEMÓRIA Verde-Rosa. Rio de Janeiro, 2023. Disponível em: <https://memoriaverderosa.com.br/cartola/>. Acesso em: 22/02/2025.
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