Guilherme de Brito, nascido em 1922 no bairro de Vila Isabel, Rio de Janeiro, foi uma figura singular na história da música popular brasileira, sendo lembrado por sua impressionante trajetória como compositor, poeta e parceiro musical de Nélson Cavaquinho. Filho de uma família com profundas raízes musicais, Guilherme cresceu em meio ao ambiente cultural efervescente que marcou o início do século XX no Brasil, época em que o samba começava a se consolidar como expressão máxima da cultura carioca. Desde cedo, foi cercado por influências musicais em casa, com um pai violonista e uma mãe pianista, o que, sem dúvida, moldou sua sensibilidade artística. Porém, sua vida não se limitou ao universo musical: trabalhou por décadas na Casa Edison, a primeira loja de discos do Brasil, onde começou como office-boy e se aposentou como chefe de seção. Essa experiência profissional, aparentemente distante do mundo do samba, conferiu-lhe uma perspectiva única, marcada pela disciplina e pela persistência, características que viriam a refletir-se em sua obra musical. No entanto, foi nos botequins de Ramos e nas esquinas de Bonsucesso que Guilherme encontrou o verdadeiro palco de sua criatividade, em meio às conversas regadas a cerveja preta e acordes de violão. Ali, nascia sua parceria com Nelson Cavaquinho, uma das mais prolíficas e importantes da música brasileira, cujas composições ainda ressoam com a dor, a melancolia e a beleza do cotidiano dos subúrbios cariocas. Suas letras, impregnadas de lirismo e autenticidade, capturam com precisão as contradições e os sentimentos profundos da alma brasileira, fazendo de Guilherme de Brito não apenas um cronista de sua época, mas um verdadeiro poeta do povo. Ao longo de mais de três décadas, sua colaboração com Nélson Cavaquinho resultou em clássicos inesquecíveis como “A Flor e o Espinho” e “Garça”, canções que, com suas melodias simples e versos contundentes, tornaram-se pilares do samba e da cultura popular do país. Apesar de todas as adversidades enfrentadas, incluindo as dificuldades em ter suas músicas gravadas, Guilherme manteve-se fiel à sua arte e à sua paixão pela música, deixando um legado que transcende gerações. Este texto visa explorar a vida e as marcas deixadas por este poeta singular, desde suas raízes em Vila Isabel até sua consagração como um dos grandes nomes do samba, revelando as nuances de sua personalidade e as histórias por trás de suas canções imortais.
