
Foi assistindo a um show da Mangueira durante uma feira de folclore, em 1961, que Regina Helena Esberard recebeu um convite inusitado: desfilar pela escola de samba. Regina, adolescente na época, não teve dúvida e aceitou. “Saí com uma roupa pesadíssima e cheia de anáguas. O espartilho machucou toda minha cintura e até sangrava”, conta ela. Nascida em Copacabana, criada em Ipanema, Regina era a própria garota classe média alta do bairro. O pai, um empresário belga, chegou a construir uma vila no subúrbio para seus funcionários com o nome da família: Vila Esberard. E não gostou nada quando a filha foi desfilar. Mas não adiantava tentar proibir: Regina passaria a ser um marco nos desfiles das escolas de samba e, para muitos, a primeira branca – e da elite – a sair na avenida Presidente Vargas. No segundo ano em que desfilou, ela quis sair como passista, sem fantasias muito pesadas. E assim foi por 20 anos consecutivos. Seu nariz de cantora de ópera e corpo perfeito, a tornaram modelo exclusiva dos maiôs Catalina – a marca mais conhecida na época entre as misses – e foi convidada para fazer um show de Carlos Machado no Golden Room do Copacabana Palace. “Meu pai tinha sido despedido e antes de conseguir uma nova colocação, meus cachês ajudaram no orçamento de casa”, relembra. Recebeu o nome de Gigi da Mangueira, dado pelo colunista Eli Halfon – jornalista de celebridades entre as décadas de 1960 e 1980. Acabou virando símbolo de elegância e aparecia em capas de revista dia sim, dia também, além de estar sempre nos jornais. Muitos achavam que foi para ela que Vinicius de Moraes compôs “Garota de Ipanema”, de tanto que ela frequentava o bar Veloso – mas não, “foi para Helô Pinheiro mesmo”, diz. Em 1967, já era uma mulher bem-casada com o produtor de televisão Wilson Rezende e mãe de dois filhos, Rubinho e Wilson Júnior. Disse em recente entrevista que não aprova a nudez gratuita na avenida e prefere o carnaval de seu tempo, em que as arquibancadas eram de madeira e não uma festa para turistas no sambódromo. Abandonou os desfiles em 1984, quando foi inaugurada a Passarela do Samba. Voltou pela última vez em 1992, quando a Mangueira homenageou Tom Jobim com o enredo. “Se todos fossem iguais a você – Tom Jobim”.
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Como citar esse artigo — OLIVEIRA, Marcelo. “GIGI: A PASSISTA QUE QUEBROU TABUS”. In: MEMÓRIA Verde Rosa. Rio de Janeiro, 2023. Disponível em: <https://memoriaverderosa.com.br/gigi/>. Acesso em: 21/02/2025.
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