
Nas vielas estreitas e vibrantes do Rio de Janeiro, onde o batuque ecoa como uma batida ancestral, histórias se entrelaçam com a cadência do samba. Entre essas histórias, há aquelas que transcendem o tempo e se tornam parte do tecido cultural da cidade. A trajetória de Ed Miranda Rosa é uma dessas narrativas que, atravessando décadas, reflete não apenas a força de um indivíduo, mas a construção coletiva de uma identidade. Nascido em 1917, em um Brasil que se reinventava sob as ondas do progresso e da tradição, Ed Miranda cresceu entre desafios que moldaram sua postura firme e determinada. Criado nos subúrbios do Rio de Janeiro, conheceu de perto as realidades do trabalho árduo e da necessidade de adaptação. Seu caminho o levou a integrar a Guarda Civil e, posteriormente, a Polícia Federal, ofícios que marcaram sua trajetória profissional e o posicionaram em cenários de grandes transformações políticas e sociais do país. Mas foi fora das fardas e regulamentos que sua presença se fez sentir de maneira singular. No universo do samba, sua caminhada encontrou um novo compasso, um ritmo que o conectou a uma comunidade onde tradição e resistência se misturam em uma dança permanente. Foi na Estação Primeira de Mangueira que Ed Miranda consolidou sua relação com o Carnaval carioca. Seu primeiro contato com a escola aconteceu em um daqueles encontros casuais que acabam por se tornar decisivos. Levado por Carlos Cachaça, um dos grandes baluartes da verde rosa, ele encontrou na quadra da Mangueira um espaço de pertencimento. Desfilou, organizou, presidiu, sempre se envolvendo diretamente na vida da escola. Entre 1978 e 1980, assumiu a presidência da agremiação, período em que enfrentou desafios administrativos e contribuiu para a estruturação da instituição, garantindo sua continuidade e estabilidade. Mas sua atuação não se limitou à Mangueira. Ed Miranda esteve presente em diversas esferas do Carnaval, promovendo a valorização das velhas guardas e assegurando que o passado estivesse sempre presente no futuro do samba. Como presidente da Associação das Velhas Guardas das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, por catorze anos, investiu na criação de um espaço próprio para a entidade, garantindo um local de referência para a memória do samba. O reconhecimento por suas atividades veio em diferentes momentos. Medalhas e homenagens lhe foram concedidas, mas seu maior legado está cravado na memória daquelas ruas que um dia percorreu e na história que ajudou a construir. No dia 1 de maio de 2012, aos 95 anos, Ed Miranda Rosa despediu-se do mundo, deixando para trás um conjunto de ações e decisões que ajudaram a moldar a Estação Primeira de Mangueira como a conhecemos hoje. Mas quem foi, afinal, Ed Miranda Rosa? Como um homem nascido em um subúrbio carioca conseguiu construir pontes entre tantos mundos distintos — o da segurança pública, o da política e o da cultura? Ao explorar sua vida e obra, este capítulo mergulhará nas camadas profundas de sua história, revelando não apenas o protagonismo de Seu Ed, mas também o reflexo de uma época em que o Carnaval era muito mais do que festa: era resistência, identidade e celebração. Será possível compreender, através de sua trajetória, o significado do legado cultural que ele ajudou a edificar? Prepare-se para descobrir.
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Como citar esse artigo — OLIVEIRA, Marcelo Fonseca de. Da farda à batucada. In: MEMÓRIA Verde Rosa. Rio de Janeiro, 2023. Disponível em: <https://memoriaverderosa.com.br/ed-miranda/>. Acesso em: 24/04/2025.
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