
Seu Tinguinha foi buscá-lo “lá na roça, perto da Beija-Flor” e trouxe-o para se juntar aos baluartes, um espaço que ele conquistou à base de muito talento e dedicação. Estamos falando de Floripes dos Santos, também conhecido como China, o rei do surdo, cuja história está profundamente entrelaçada com a da Estação Primeira de Mangueira. Agora, mais uma vez, ele está no céu ao lado de Tinguinha, como acontecia nos desfiles em que China marcava o ritmo com seu surdo de marcação enquanto Tinguinha comandava o tarol. Juntos, criaram momentos que ficaram gravados na memória coletiva da escola. Além disso, ele também está reunido com Zé Crioulinho, outro notável tocador de surdo da Mangueira. China nasceu em Minas Gerais e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1921, aproximando-se da Mangueira e firmando suas raízes na comunidade. Foi ali que ele se casou com Miúda (não confundir com Noêmia de Assis), irmã de d. Isaura, mãe de Onésio Meirelles. O casal vivia no Buraco Quente, e em 1943, Miúda enfrentou complicações durante o parto de seu filho, Benedito, vindo a falecer devido a uma hemorragia interna. A perda abalou profundamente a família, especialmente Isaura, cuja ligação com Miúda era extremamente forte. Viúvo e com um bebê para cuidar, China decidiu deixar Benedito aos cuidados da avó, d. Leonor, mãe de Miúda, até que ele conseguisse reestruturar sua vida. Pouco tempo depois, conheceu Guilhermina, que se tornou sua companheira e assumiu a criança como se fosse sua, formando um novo núcleo familiar. Foi em 1945 que China ingressou oficialmente na bateria da Estação Primeira, assumindo o surdo de marcação, instrumento que dominava com maestria. Ele era do tempo em que os instrumentos precisavam ser aquecidos para que o couro se ajustasse adequadamente, e os materiais variavam de couro de boi a cabrito e, em alguns casos, até mesmo gato. Sua habilidade e precisão foram fundamentais para estabelecer o ritmo e o andamento que se tornaram característicos da Mangueira. Durante anos, ele foi a referência na marcação, inspirando gerações de tocadores como Capixaba, Baiano e o próprio Zé Crioulinho. Antes de sua ascensão, o surdo era liderado por Lúcio Pato, que, devido a problemas de saúde em 1938, passou a posição para China. O próprio China recordava os aprendizados recebidos de Lúcio Pato, incluindo os “cascudos” que o ajudaram a se tornar o músico excepcional que foi. Apesar de ter saído do Morro de Mangueira em 1957 para morar em Deodoro e, mais tarde, na Baixada Fluminense, em Nilópolis, perto da Beija-Flor, China nunca deixou de ser mangueirense de coração. Ele fazia questão de reafirmar que, independentemente de onde vivesse, “o coração continuava mangueirense, verde-rosa”. Sua contribuição para a Mangueira transcendeu o tempo, garantindo-lhe um lugar entre os grandes nomes que ajudaram a construir a história da escola e do carnaval carioca.
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Como citar esse artigo — OLIVEIRA, Marcelo. “CHINA DA MANGUEIRA: O REI DO SURDO”. In: MEMÓRIA Verde Rosa. Rio de Janeiro, 2023. Disponível em: <https://memoriaverderosa.com.br/china-do-surdo/>. Acesso em: 20/02/2025.
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